Fim de tarde recifense e, eu estou morrendo dentro da biblioteca da faculdade. A rainha da procrastinação deixou o relatório para a última hora como sempre. Não estou sozinha na sala de estudos, mas nenhum dos meus companheiros desnecessariamente barulhentos quebra minha atenção completamente. E nem poderia pedir (educadamente ou não) por atenção porque fui eu quem escolheu não ir para a sala individual, onde o ar condicionado funciona e o silêncio impera. A quietude me distrai muito mais do que o ruído. Então aqui estou eu, com cara de poucos amigos, suada e com o cabelo em coque, tentando entender bioquímica. Estava quase jogando os livros para o alto de frustração quando ouvi você dizer,
- Quer um suspiro?
Confesso que levantei a cabeça com raiva e já pronta para dizer umas poucas e boas, mas a primeira coisa que vi foi um copinho descartável cheio de mini suspiros. Aceitei antes mesmo de olhar para quem me ofereceu e não lembro o que disse em seguida, mas fez o moço dos suspiros sorrir e foi ai que eu realmente olhei para você. Seu cabelo era uma confusão que não decidia se era loira ou castanha, seus bonitos olhos castanhos estavam emoldurados por um óculos azul escuro, mas o que me cativou instantaneamente foi o sorriso. Era um daqueles que moram no cantinho da boca, charmosos e que te deixam com vontade de descobrir o que fazer para que ele tome conta da boca toda. O conjunto da obra era um rosto que eu jamais cansaria de olhar.
- Você estava com uma cara que parecia querer esfaquear o livro então achei que um suspiro ajudaria.
- Você salvou uma vida e um livro.
Ele riu e eu fiquei com a sensação de já ter ouvido aquela risada antes. Mas não como se eu tivesse escutado em algum lugar do campus, sabe, não parecia acidental. A risada dele para mim naquele momento era como a música daquele filme que eu não sabia cantar mas conhecia a melodia. Ansiosa como sou comecei a martelar mentalmente de onde eu o conhecia.
- Não sou nenhum gênio da bioquímica, mas já terminei esse relatório. Quer uma ajuda?
Nesse momento cai uma ficha gigantesca em mim e como a louca que sou praticamente grito,
- Você é da minha turma!
Você me olha como se fosse triste eu só ter te percebido agora.
- Só notou agora? Isso é triste porque eu te notei desde que preenchemos as fichas de matricula lado a lado no começo do semestre.
É isso aí, eu sou capaz disso. Obrigado Universo por zombar da minha cara e por me dar essa segunda chance! Vermelha como um tomate, eu aceito a sua ajuda no relatório. E como em um filme americano, depois da aula você me paga um suco e conversamos até que me coloca no ônibus de volta para casa.
É exatamente nessa hora que qualquer um imagina o primeiro beijo. Mas acontece que ele é um dos meus melhores amigos até hoje, e não, nunca rolou absolutamente nada.
Por que deveria acabar em romance? Amizade é o tipo mais bonito de amor. A prova disso é que sou viciada em suspiros até hoje.
A propósito, quer um?
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