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Foto do escritorMariana Lira

A Fogueira da Bruxa - Barbara Sena

Ela assistirá seus inimigos queimarem!


Sinopse: No fim da Idade Média, a Europa foi varrida pelo medo e o terror, e permitiu que a Santa Inquisição a livrasse de todo o mal que a cercava, as bruxas.

Durante décadas milhões de mulheres foram perseguidas, torturadas e condenadas por crimes que não cometeram e o resultado da ignorância e histeria coletiva, foi uma profunda cicatriz na história da humanidade.

No meio do horror que devastava o continente, Allegra Bellini, uma jovem questionadora do interior da Toscana, vê sua vida pacata se transformar quando no ano de 1492, inquisidores visitam a sua vila e o fogo da purificação dos hereges chega mais perto do que ela jamais havia imaginado.  Em certas épocas falar e lutar pelo que acredita pode ser perigoso e salvar uma vida pode trazer a condenação à outra, a sua própria vida.

Quando o bem lutava para erradicar o mal do mundo, e as mulheres eram silenciadas,  Allegra ousou questionar quem são verdadeiramente os bons e os maus. Quem são os vilões e quem são as vítimas e quem define isso. Em A Fogueira da Bruxa, você vai descobrir que talvez os livros de História não tenham te contado toda a verdade sobre as bruxas…


Ser mulher não é fácil, o dia a dia e a história nos mostram que isso vem sendo a realidade há algum tempo. Mas na Idade Média, conhecida também como Idade das Trevas, ser mulher era viver com a constante acusação de bruxaria rondando sua vida. Mas não para Allegra Bellini.

Allegra é uma jovem que vive em uma cidadezinha pacata da região da Toscana, que ainda que questione em seu coração algumas práticas e doutrinas religiosas, cresce como fruto de uma boa família cristã, com seus pais Enzo e Donatella Bellini, e a servente da família a quem ela ama como a uma mãe, a Francesca. Sua vida pacata no entanto muda drasticamente quando Inquisidores do Santo Ofício chegam a cidade a procuras de bruxas ou evidências de feitiçarias na região. Allegra vê sua amiga Francesca ser acusada de bruxaria pelo chefe-inquisidor, Bispo Klaus Furtwängler. Na sua ânsia de tentar salvar a amiga do destino reservado para as bruxas, a fogueira, Allegra acaba atraindo a atenção do inquisidor para si. E é no momento em que o bispo a chama para conversar que ela descobre que as proibições dogmáticas não são nem o começo da opressão da igreja católica da época. Assim começa a jornada dessa jovem para salvar a si mesma, e quem sabe, muito mais mulheres das condenações de bruxaria.

Quantas mulheres mais haviam sofrido a mesma injustiça? Quantas morreram para purificar a Terra de um mal inexistente? Por que as mulheres são tão perigosas aos olhos da igreja?

A autora é bastante descritiva em algumas cenas, em especial nas cenas de tortura, física e psicológica. Não me foi tão chocante por já ter lido em outros livros sobre os métodos horríveis que se usavam na época para arrancar de uma mulher uma confissão de bruxaria. Mas aos mais sensíveis fica o aviso: são cenas muito fortes. O golpe dado na nossa protagonista é forte, cruel e acontece aos poucos. São meses de definho, ao ponto de ser abandonada até por seus próprios pais, que sabem de sua inocência. Ainda sobre seus pais, achei interessante que o livro mostra que não só quem era presa que sofria, mas sua família também. Afinal, ninguém gostaria de ter negócios ou relações com alguém que possuí uma bruxa na família.

A parte que mais me doeu é ver que toda aquela violência é motivada por puro preconceito e ódio irracional. Conhecemos um pouco do passado do Klaus no livro e descobrimos o porquê de seu ódio desmedido pelo gênero feminino. Dói mais ainda porque o discurso que ele usa, o famoso "em nome de Deus", não ficou esquecido na idade das trevas. Ele é usado até hoje contra nós, mulheres.

Esses homens não se baseiam na razão, mas, sim, no medo do desconhecido, do que é mais forte que eles, do que é selvagem e livre. Por isso eles temem as mulheres e as condenam aos milhares.

O livro está repleto de sororidade e irmandade feminina, o que dá um quentinho no coração no meio de tanto horror. Várias mulheres incríveis atravessam o caminho da nossa protagonista e desconstroem dentro dela um pouco de cada vez, a imagem que ela tinha sobre o que significa ser mulher, e tiram de suas costas tudo aquilo que a sociedade esperava dela. Vemos mulheres que cuidam umas das outras, que ensinam e protegem. O livro entra para o rol dos livros necessários nos dias atuais principalmente por isso.


As mulheres já tem inimigos demais... se permanecermos separadas, competindo e falando mal umas das outras, eles vão conseguir nos enfraquecer e destruir uma a uma. Mas... se nos unirmos, o mundo pode ser um lugar muito melhor para todas nós.

Um ponto que também achei muito interessante é a relação de Allegra com o mundo espiritual. Suas dúvidas sobre quem é Deus e se ele realmente quer todo aquele horror acontecendo. O Deus que ela conhece, feito de amor e perdão, é confrontado com o Deus que Klaus representa, vingativo, cruel e que associa a imagem da mulher sempre ao pecado. Ao passo que o livro avança, Allegra descobre em sua relação com o divino, uma relação de equilíbrio, onde sem a mulher não há homem e vice e versa. E nessa caminhada ela descobre que apesar de não ter como mudar seu passado, ela pode determinar o que será do seu futuro.

O livro ganhou 4 estrelas de mim no Skoob porque a vingança dela me incomoda. Não há como eu me aprofundar nesse tópico sem dar spoilers fortes sobre a história, mas a forma como também há uma crueldade nas ações da Allegra me perturba assim como em certa altura também perturba a própria personagem. Tenho um mantra forte dentro de mim de jamais me tornar aquilo que me fere, então ver como isso quase acontece com a Allegra, mexeu comigo também.


Conheci esse livro ao encontrar o perfil da autora no Instagram. A Barbara é um amor, autografou o livro pra mim e fez um trabalho incrível neste livro de estreia. Eu sou suspeita para falar qualquer coisa, pois não dispenso uma boa história de bruxas, mas fica aqui a minha recomendação. Leiam A Fogueira da Bruxa e se apaixonem por Allegra como eu me apaixonei.


PS.: Dica da tia Mari: Sempre procuro ou monto uma playlist para cada livro que leio. Quando coloco os fones de ouvido, dou play e começo a leitura, meu grau de imersão é tão intenso que me desligo completamente de tudo a minha volta. Não são todas as vezes que consigo, mas faço esse ritual sempre que posso. Se liga na playlist que embalou minha leitura de A Fogueira da Bruxa!

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