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Foto do escritorMariana Lira

A Menina Submersa - Caitlín R. Kiernan

Atualizado: 22 de out. de 2018

Você sairá deste livro assombrado

Foto por @seguelendo

“Vou escrever uma história de fantasmas agora” Ela datilografou. “Uma história de fantasmas com uma sereia e um lobo”, datilografou mais uma vez. Eu também datilografei.

Este livro deveria vir com um selo na capa escrito Atenção: Esta não é uma história de fantasmas comum. Você sairá dela assombrado para sempre!


A autora, Caitílin R. Kiernan não foi elogiada por Neil Gaiman à toa. O mundo que ela criou em A Menina Submersa é imersivo, cheio de elementos mágicos como sereias e licantropos, mas não se engane, esse não é um livro de fantasia. É um livro dentro do livro, totalmente não cronológico, e nele somos inseridos e guiados pela Imp, uma garota esquizofrênica. Pareceu confuso? Isso não é nem o começo.


India Morgan Phelps, nossa Imp, é uma garota solitária que tenta viver da maneira mais normal possível apesar de sua doença mental, herdada de sua mãe e avó; as duas se suicidaram para escapar das garras da própria loucura e Imp tenta não caminhar para o mesmo destino, ao mesmo tempo que tenta, em seus escritos datilografados, dividir o que de fato acontece no seu dia a dia do que está acontecendo em sua mente. Tenta diariamente entender o que acontece com ela, com sua namorada, com Eva Canning e com ela mesma.

O livro é escrito como um diário dela para ela mesma; escrito de maneira fluída como um fluxo contínuo de pensamentos, não seguindo uma cronologia linear pois como ela mesmo cita no início do livro, “Nenhuma história tem começo e nenhuma história tem fim[...] Todos os começos são arbitrários”. Ela discute consigo mesma, se responde no texto, escreve falas inteiras de outras personagens e depois redige a repreensão daquela pessoa por não ter sido exatamente aquilo que fora falado.

“Será que eu sou uma louca que apenas transfere seus delírios e consciência perturbada para a palavra escrita?”

O livro é tão confuso quanto a sinopse propõe que ele seja, e a todo momento a Imp nos avisa que não é uma narradora confiável. A narrativa nos joga através do tempo e das memórias da Imp, de maneira que muitas vezes eu tive que reler mais de uma vez um parágrafo ou uma página até, para entender o que estava acontecendo. Uma das ferramentas que ela nos dá para saber se algo de fato aconteceu, são lembranças físicas daquelas memórias. Então se em alguma parte da história ela tiver comido um biscoito da sorte por exemplo, ela vai guardar consigo o bilhete que veio dentro para ter certeza de que a memória é real. No começo do livro é um recurso bastante usado.


'Fecunda Ratis', de Albert Perrault; 'Girl on a river', de Philip George Saltonstall (ambas criações para o livro). Fotos retiradas do site Resumo da Ópera

Imp faz uso de várias obras de arte e artistas em sua história para figurar seu texto e explicar o que sente e quais são seus fantasmas. São descrições tão embasadas e de uma visão tão ampla que só descobri que eram fictícias porque procurei por todas no Google. Ela tem uma fixação especial por dois quadros, A Menina Submersa de Saltonstall, que dá nome ao livro; e Fecunda Ratis de Albert Perrault. Quem procurar online por esses nomes verá representações bem fieis a descrição do livro e eu até recomendo que faça essa busca pois ajuda a visualizar e entender porque são tão importantes para Imp. Em especial, o quadro a A Menina Submersa, que mostra uma mulher, apenas com os pés na água, completamente nua, olhando para atrás de si, encarando uma mata e sua escuridão. Esse é o fantasma central da Imp e você acompanhará referências a ele durante toda a história. Tenho uma teoria de que a figura da Menina Submersa faz espelho a imagem da Imp, uma garota desprotegida olhando com medo para a densa escuridão da sua mente. Mas essa já é uma viagem só minha.


Edição clássica e edição nova de A Menina Submersa. Origem da Foto: Facebook.

Este livro teve tamanho impacto em mim que estou a procura das duas edições para comprar. A editora Darkside tem um carinho inigualável com cada livro que publica e eu me apaixonei completamente por ambas as versões publicadas. É um livro que eu recomendo demais, porém também entenderia se quem o lesse, não gostasse. Ele não é uma leitura fácil e exige determinação e atenção aos detalhes. Mas para aqueles que aceitarem a aventura e mergulharem nos fantasmas de Imp, por favor, compartilhem comigo o que acharam.


A Menina Submersa

Autor: Caitlín R. Kiernan

Tradução: Ana Resende e Carolina Caires

ISBN: 9788566636253

Gênero: Literatura estrangeira - Ficção Cientifica

Editora: DarkSide Books

Selo: Darklove



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1 Comment


Haryel Azevedo
Haryel Azevedo
Jan 12, 2022

Estou imersa no rio chamado India Morgan Phelps, só descobri que as pinturas são fictícias com seu texto. Mas com certeza quero um quadro réplica (?) de A Menina Submersa.

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