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Foto do escritorMariana Lira

Estou de dieta do ódio

Como recusar todo esse ódio que o mundo está produzindo ?

O mês das eleições foi o pior mês do ano para mim e o dia em que foi anunciado o nosso presidente eleito, eu não consegui parar de chorar boa parte da noite. Não só pelo fato de ter ficado bem insatisfeita com a escolha da nação brasileira, mas principalmente pelo porquê da escolha, e por toda onda de ódio que vi se agigantar em todo lugar desde o começo do ano, em todo lugar. Essa onda não foi nem é unilateral, ela veio de todos os lados pois se teve uma coisa em que todo mundo concordou esse ano foi que se odiava, com força e veemência. Direitas que odiavam esquerdas, que odiavam direitas, quando ambos eram odiados pelo centro... Enfim, não acho que esse seria o cenário ideal em contexto nenhum.

A eleição veio e passou, e eu pensei que com isto resolvido, as pessoas estariam mais dispostas a conversar. Quem está insatisfeito com a escolha da maioria, quem está com medo, quem está eufórico... pensei que quando o período mais apaixonado passasse, as pessoas começariam a conversar. E me enganei mais uma vez. Cada vez que entro em qualquer uma das minhas redes sociais eu continuo vendo ódio, desespero, medo. O ano foi extremamente cansativo e desgastante por isso e 2019 não parece estar chegando com uma trégua.

Foi neste momento que eu olhei para mim mesma, para as crises de ansiedade que estavam cada vez mais fortes e frequentes. Olhei para mim fisicamente e vi o quanto eu havia largado a mim mesma para as traças. Olhei para minha meta de leitura, a atividade que me dá mais prazer na vida estava sendo altamente negligenciada. E aí fui analisar minhas próprias redes sociais. Eu estava imersa completamente nesta bagunça e destilando ódio e raiva para todo lado, como todo mundo.

Dei dois tapas (mentais) na minha própria cara, corri para minha psicóloga e sai daquela consulta determinada a mudar a forma como eu estava vendo o mundo e com o que eu estava emitindo para o mundo também. Então nestes últimos dois meses tentei me tornar mais sensível ao que lia e ouvia, tentei ver além da superfície e acima de tudo: Parei de discutir com os outros sobre qualquer assunto que fosse. Dei-me um período sabático que você que está lendo preferir encarar desta maneira. Assumi um posto mais de expectadora, enxuguei minhas fontes de informações para uma galera que estivesse buscando uma solução e não brigas e culpados. E foi transformador para mim.


O que eu vi é que desaprendemos o significado de algumas palavras como por exemplo a palavra diálogo. Dialogar não significa impor meu entendimento ao outro, não é diálogo se eu falar sozinha ou se eu não ouvir o que o outro está dizendo.

Outra palavra que sumiu do mapa foi empatia, e não estou falando de empatia seletiva ta? Empatia é se colocar no lugar do outro para tentar entender o ponto de vista dele. É desfocar um pouco do seu próprio eu e focar um pouco no próximo. Isso vale tanto para aquela pessoa em sofrimento por alguma razão quando para aquele hater que tão apaixonadamente defende valores que muitas vezes nem entende. A empatia total vai te ajudar muito a escolher suas batalhas e a descobrir com quem se pode dialogar.

"Mas mari, tenho de ser empática até com odiadores?"

Sim e eu te explico porque comecei a pensar assim. As pessoas estão procurando um norte no meio desse caos e existem pessoas tão acostumadas a uma linha de pensamento que lhe é extremamente desconfortável pensar em outra coisa. E sim, eu sei que existem pessoas ruins de fato nesse mundo e sei que ninguém é obrigado a ser SUS Mental de ninguém. O que eu me propus a fazer é: Existe uma ponte que se possa construir entre minha linha de pensamento e a sua? Caso sim, vamos conversar e tentar nos ajudar. Caso não, desculpe mas não vou me alimentar do ódio que você transmite. Fez sentido? Na minha cabeça eu juro que faz.


Em suma, o que estou tentando fazer nestes últimos dois meses é: Não me alimentar deste ódio todo que o mundo está produzindo com tanto afinco. E ter em mim o cuidado de só transmitir ao mundo algo que venha de um lugar de muito carinho, algo que não só não vá inchar mais essa bolha de raiva como talvez - só talvez - dê uma aliviada nela. Eu tenho tentado olhar ao meu redor e aprender um pouco com tudo. Eu percebi que só notei esse horror todo que já mencionei mais acima porque comecei a prestar atenção nele. E não é que agora eu tenha fechado os olhos para tudo que há de ruim e seja o que Deus quiser. Mas eu tenho tentado ser uma propagadora de esperança, só isso. Porque se a gente pensar que não tem mais jeito, a gente não vive. O medo e o desespero vão nos impedir de viver e nosso senso de autoproteção vai nos fazer ficar com ódio das pessoas que nos puseram nesse estado de terror. Medo congela, desespero nos leva a atitudes e palavras impensadas. Mas amor, carinho, respeito, afeto... essas são as coisas que eu acredito que mudam o mundo.


Olhe que eu não disse em momento algum que foram meses fáceis. Mas foram mais introspectivos, foram meses em que foquei em cuidar de mim e de quem estivesse ao meu alcance precisando de uma ajuda. Toda guerra tem um grupo de enfermeiras voluntárias (assim me mostram os filmes de guerra pelo menos), e a percepção delas é de homens e mulheres iguais na dor. Eu me voluntario a ser uma dessas enfermeiras. Eu não estou vendo lados, eu estou aqui para tentar ajudar. Estamos em meio a tempos muito sombrios e ainda não há perspectiva de céu claro para ninguém. Um "eu avisei" com dedo apontado na cara do outro não vai nos tirar de onde estamos agora. Muito pelo contrário, acredito que esse dedo apontado e muitos "a culpa é do cicrano" foi o que nos trouxe aqui para começo de conversa.


Eu vi muita gente construindo pontes nesse período, ou pelo menos tentando como pode. Eu decidi me juntar a esse grupo. Você vem?


P.S. para recomendar o que pode ser seu primeiro passo na jornada: Mamilos Podcast!

As maravilhas @CrisBartis e @jwallauer estão desde 2014 construindo pontes e fazendo o melhor podcast de todos os tempos (nem sou tiete né?)! É um jornalismo, como elas mesmo dizem, de peito aberto. Estão aqui para fomentar um debate limpo, racional, onde o objetivo é achar caminhos possíveis, achar um denominador comum, é construir um diálogo, onde todos se ouvem e se respeitam. Eu recomendo a todo mundo, tornem-sem mamileiros!







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