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Foto do escritorMariana Lira

Ser mãe x Ser mulher

Parafraseando o conto da Aline Valek: Eu, Incubadora.



Okay, vamos para novas considerações sobre essa revolução que é estar grávida pela primeira vez. Eu fui apagada. Sou meramente o receptáculo que envolve um bebê. Drama? Bom, do meu ponto de vista não, e pelo que tenho conversado com outras gravidinhas, também não.

O que acontece é que as pessoas não enxergam a mulher grávida. Existe um sentimento de proteção, de milagre, de divindade com o qual tentam cercar a nossa imagem. Tudo existe pelo bebê. Você não está entendendo? Você nasceu para isso, para gerar outro de nós, você não está orgulhosa de estar cumprindo seu dever na terra? Diploma, carreira, outros sonhos... nada disso deve existir mais na sua cabeça. Sua prioridade agora é seu bebê.

Não que eu não esteja pensando no bebê boa parte do meu dia, mas assim, eu ainda vou me formar. Eu ainda quero viajar, conseguir trabalhar de casa como eu sempre quis. Namoro o sonho de escrever profissionalmente, namoro a ideia de trabalhar com tradução... Essas coisas ainda estão na minha to do list da vida. "Ah mas é porque você não faz ideia do trabalho que dá criar um filho, do tempo que toma da sua vida, da responsabilidade". As vezes parece que o objetivo das pessoas é garantir que a maternidade seja vista como algo horrível. Quero dizer, se é tão sacrificante, tão dolorido, tão penoso e tão ruim como algumas pessoas fazem parecer... quem em sã consciência iria querer ter um filho? Mas sempre há o plot twist e essa mesma pessoa que demoniza a maternidade é aquela que manda o jargão "Filhos são presentes de Deus, são bençãos, maior alegria da vida." Depois a bipolar sou eu...

Eu vou terminar meus estudos e me formar, eu vou realizar meus sonhos, eu vou viajar. Tudo isso com meu neném nos braços. Meu maior desejo é ser o exemplo pra ela, de que nada te limita a não ser você mesmo. Estou ciente de cada privilégio que me faz ter tanta certeza de que vou conseguir tudo isso. Meu marido é maravilhoso e tem um bom e estável emprego, minha rede de apoio é boa, tenho acompanhamento psicológico. Como eu gostaria que a minha realidade fosse a de todas as mulheres. Eu estou reclamando aqui de todas essas lamúrias chatas, mas eu tenho total ciência da raiz delas. Da solidão da maternidade, de mães que são isoladas da sociedade enquanto cuidam de seus filhos. Que acreditaram por toda uma vida que o instinto materno viria via download no momento que a criança saísse de dentro de si. De gestantes abandonadas pelos companheiros, julgadas pela família, sem rede de apoio. Gravidezes indesejadas, maternidade compulsória... Deus, eu sou muito grata por cada um dos meus privilégios. Mas isso não dá aval a seu ninguém de mensurar como vai ser a minha experiência ou de ditar regras sobre o que eu posso ou não fazer agora que sou mãe.


Na canção mãe, do Emicida, existe a seguinte narração:

"Sentia a necessidade de ter algo na vida

Buscava o amor das coisas desejadas

Então pensei que amaria muito mais

Alguém que saiu de dentro de mim e mais nada

Me sentia como a terra, sagrada"

Essa tem sido minha experiência e quero que continue sendo. Eu entendo o sagrado da gravidez, do parto. Que força uma mulher precisa ter para gerar, para parir. Não é bonito, é sujo, é dolorido, tem muito choro. É ritualístico e feminino. Somos a única forma de se entrar nessa existência. Mesmo Cristo veio ao mundo por meio de uma mulher, e por isso eu reconheço essa experiência como sagrada. E por isso eu jamais me enxergarei mais fraca, mais incapaz, mais impossibilitada. Ao fim dessa gestação, passado o parto, com minha filha em meus braços, eu estarei no auge da minha força, da minha feminilidade. E por isso nada será capaz de me deter.

Parece até que me contradigo com o inicio desse desabafo. Mas não vejo dessa maneira. Querem que minha filha seja o fim da minha vida, coisa que ela jamais será. Esse é o ponto. Ela é um novo começo, ela será (e já é na verdade) a força para eu levantar todos os dias e dar o melhor de mim para ser a melhor mulher que eu puder ser. Esse é o sagrado que falo. Não falo da maternidade perfeita e romantizada. Serei mãe de uma menina, meu maternar precisa ser exemplo. Não posso passar para ela essa imagem horrível da maternidade, não posso jamais levar ela a crer que atrasou minha vida, que ela foi peso. Porque ela não é. Eu não nasci pra ser mãe, nenhuma de nós nasce. Ser mãe é e deve sempre ser uma escolha. Eu escolhi ser mãe e essa é uma escolha linda.


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