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Foto do escritorMariana Lira

Mãe no fim do mundo

Como está sendo gerar uma vida no meio de uma pandemia.


Estar gestante já é uma carga de ansiedade no corpo, uma das fortes e que só aumenta a cada mês que passa. Agora estar grávida durante uma pandemia está testando os níveis de ansiedade que este meu pequeno corpo pode aguentar. Estou tomando todos os cuidados, claro. Mesmo que meu marido não esteja fazendo home office, temos higienizado tudo, tenho saído somente se for extremamente necessário. Mas quem disse que é fácil? A solidão tem cobrado um preço e a frustração de ter seus planos alterados e até cancelados tem sido difícil de administrar. Ensaio de gestante que não terei, chá de fraldas é impensável... estou no terceiro trimestre e nem mesmo o quartinho dela está terminado. Não tenho o enxoval básico graças ao comércio fechado. Por Deus, não tenho ainda nem as fraldas, malas de maternidade, nada. Tenho feito algumas compras online e algumas coisas estão para chegar, só posso ter fé de que vai dar tempo. Alguns dias consigo essa fé, outros é mais complicado.


Meu primeiro post aqui sobre a gravidez foi sobre todo medo que isso gera na mãe de primeira viagem. Esse medo tem estado potencializado como dá para perceber. Não sei como estarão os hospitais por exemplo. Vou para a rede particular de saúde mas ainda assim é um risco. Não só do contágio desse vírus, mas da equipe médica reduzida e estressada, do deslocamento, de possíveis complicações. Tudo isso gera um bolo na garganta. Eu quero muito parto normal, já tenho meu plano de parto pronto inclusive, o que pode significar muitas horas no hospital e uma pressão a mais para uma cesária. Tenho medo de ceder, tenho medo de me arrepender. Mesmo não indo tão longe, vamos nos ater ao dia a dia; não consegui fazer tudo do pré-natal deste mês por exemplo. Consultórios fechados, é a pandemia. Preciso fazer uma ecofetal mas como? Sistema privado fechado, sistema público lotado e sem data. Minha bebê vai crescendo dentro de mim e tudo que posso fazer é orar e pedir a Deus que esteja tudo bem.


Claro que existem coisas boas e que Deus não está poupando seus anjos em meu socorro. Iniciei uma vakinha para os amigos que quiserem ajudar já que não teremos chá de fraldas, e ela vai bem. Tive apoio até de um querido, o @tantotupiassu , que acompanho no twitter já algum tempo, para apoiar e divulgar a vakinha. Ele, como pai de 5, me tratou com um carinho pelo qual serei sempre grata. E vários amigos também já contribuíram para que minha Yarin tenha tudo pronto para recebe-la quando chegar a hora. Tenho uma rede de apoio incrível e que tem sido fundamentais para minha sanidade e tranquilidade esses dias. E sim, sei que estou sentada em um trono de privilégios mesmo com toda essa situação. Meu coração dói de pensar em outras gestantes que como eu estão apavoradas e não tem os recursos com os quais conto hoje. Peço a Deus que nos proteja nesses dias sombrios.


Fico na espera de dias melhores e que até que a hora chegue, esse rebuliço ou pelo menos a pior parte dele tenha passado. Penso no que contarei a minha filha, no porquê de tão poucas fotos dela dentro de mim entre outras coisas. Pensamentos intrusivos tentam a todo momento tirar a felicidade que é ter esse pedacinho de amor dentro de mim, é uma luta diária para não deixar a escuridão de fora se apossar de tudo. Mas no fundo do coração eu sei que ela será meu raio de sol no meio desse breu. Sei nos meus ossos que no fim, quando ela estiver comigo, tudo terá valido a pena. Está difícil mas vai passar, e eu contarei a ela o quanto ela já é uma guerreirinha vitoriosa de uma guerra contra esse mundo.

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