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Foto do escritorMariana Lira

Meu corpo não é público!

Não era antes da gestação, não passou a ser depois.


Photo by https://theheartysoul.com/

Logo que eu soube que estava grávida eu soube que, assim que a barriga começasse a despontar, eu teria que lidar com mãos indesejadas sobre o meu corpo. Eu sou evangélica praticante, estou quase todos os dias no templo para os cultos, imaginava que esse seria o lugar para me preocupar, com todas aquelas senhorinhas e o ''ai meu Deus que linda sua barriga''. Estava lidando bem com isso. Retiradas discretas de mão, indiretas aqui e ali, a coisa estava até que sob controle e eu estava feliz. Até hoje.

Hoje eu estava acompanhando minha mãe em um exame, estava na calçada tomando um ar quando uma completa estranha me perguntou se eu estava grávida e já veio com aquela mão cheia de dedos na minha barriga. De novo: uma completa estranha, um ser humano que eu nunca vi na vida, achou que tudo bem tocar na minha barriga. Afinal eu estou grávida, deveria ficar feliz com ela ficando feliz por mim certo? A resposta pra isso é um claro e sonoro NÃO!

E voltamos ao desabafo anterior, a me sentir um receptáculo, as pessoas não me perceberem como indivíduo e não só como uma incubadora com pernas. Essa é certeza, toda grávida passa. E meninas que ainda não sabem ou são levadas a pensar o contrário: estranhos tocando seu corpo não é normal. Se você não estiver a vontade, nem conhecidos tocando seu corpo é normal. Seu corpo é você, é sua casa maior e cada toque nele tem que ser consentido. Na sua casa, dentro de quatro paredes você não deixa que qualquer um entre e faça o que quer. Com seu corpo é a mesma lógica.

Eu me sinto até boba de estar dizendo o óbvio, mas é preciso dizer. Porque quando eu desabafei com minha mãe, mais tarde naquele mesmo dia sobre o que tinha acontecido, tremendo de raiva e frustração, ela me disse que eu fui grossa com a maluca lá. Que era normal, que tudo bem e que eu não devia ter gritado com ela (é eu gritei, chamei ela de maluca até ela sair de perto de mim. Momentos). Não mãe, não ta tudo bem tocarem em mim sem que eu queira. Meu corpo não ficou público só porque eu estou gestante.

Isso é tão problemático porque é o corpo da mulher que é visto como público. Dá uma piorada por ser gestante mas esse é o terrível dia a dia de muitas. Ser tocada, apalpada, roçada e a lista segue por ai, todos os dias, sem seu consentimento. Algumas por não saberem que podem dizer o não, algumas por não poderem, outras por não conseguirem.

E o controle dos nossos corpos não para por ai. Já comecei a ouvir as tiradas clássicas: Não come muito porque senão vai ser difícil voltar para o corpo pré gravidez. Difícil engordar e ter que ficar feliz com isso não é? Cuida direitinho do seu corpo porque marido não entende isso não, vai logo atrás de outra. As pessoas, na maioria das vezes podiam apenas calarem a droga da boca né?

Cada curva, estria, quilo que está sendo acrescentado ao meu corpo é uma marca de que minha filha está aqui, se desenvolvendo bem e saudável. E eu sou grata por cada marquinha dessa. Quando ela sair de mim eu vou mostrar essas marcas a ela e explicar: Esse é o sinal do amor de mamãe por você. Meu corpo se adaptou inteiro para você crescer dentro de mim. Meu marido, maravilhoso que é, abraça cada mudança junto comigo. Eu não poderia ser mais grata a Deus pelo companheiro que escolhi para vida.

Essas situações são para mim uma grande lista do que não fazer e do que ensinar a minha filha. Relação saudável com a comida e seu corpo meu amor, seu corpo é seu e você é soberana sobre ele. Eu tenho que reverter tudo isso em ensinamento pra ela, de uma forma que minha mãe não pode fazer por mim. Outra época, outros meios. Nova era, novos meios. No que depender de mim, minha filha não carregará os pesos que carreguei.

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