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Foto do escritorMariana Lira

O Espadachim de Carvão - Affonso Solano

Ouça os Círculos



"Qualquer coisa pode ser morta. Basta acertá-la no lugar certo"

Sinopse: Kurgala é um mundo abandonado por Quatro Deuses. Adapak é filho de um deles. E hoje ele está sendo caçado. Perseguido por um misterioso grupo de assassinos, o jovem de pele cor de carvão se vê obrigado a deixar a ilha sagrada onde cresceu e a desbravar um mundo hostil e repleto de criaturas exóticas. Munido de uma sabedoria ímpar, mas dotado de uma inocência rara, ele agora precisará colocar em prática todo o conhecimento que adquiriu em seu isolamento para descobrir quem são seus inimigos. Mesmo que isso possa comprometer alguns dos segredos mais antigos de Kurgala


Não foi uma leitura fácil e eu preciso iniciar essa resenha falando isso. O mundo fantástico criado por Affonso (com dois efes de faca) Solano me deu a mesma sensação de quando li Game of Thrones pela primeira vez, e arrisco dizer que a estranheza foi maior. Porque não é apenas o caso de nomes muito estranhos, mas de seres fantásticos aos montes logo no primeiro capítulo. A sensação foi de que estava pegando a séria na metade. Isso me confundiu e cansou um pouco e gerou uma certa preguiça de continuar a leitura. Mas cá pra nós? Ainda bem que eu superei isso. O livro é muito bom!


“Vento nenhum é favorável quando não se sabe para onde se está indo.”

A partir do momento em que você se acostuma com os personagens e já sabe definir quem é quem, Adapak, nosso espadachim de pele negra como carvão, te ganha com sua inocência pueril em um mundo vil e duro. Affonso constrói em seu livro uma cronologia alternada, onde um capítulo nos conta um pouco do passado de Adapak, sua jornada em se descobrir filho de um Dingirï, e o outro narra o tempo presente, onde vemos ele desbravando Kurgala enquanto tenta escapar de seus perseguidores. Descobrir o porquê de ele estar sendo perseguido por pessoas que querem matá-lo foi o que me prendeu na história.


A narrativa do Affonso é extremamente visual chegando a ser quase gráfica. Ao descrever Kurgala, se você estiver imerso na leitura, você consegue quase que ver as cenas das cidades por onde o Espadachim passa. Cenas de ação são maioria no livro narradas de maneira primorosa a ponto de me deixar segurando a respiração em várias delas.


Todos os personagens também foram construídos com muito primor, mas em especial o nosso protagonista e seus tutores, sendo eles seu pai Enki'Nar, A Voz Esmeralda; Barutir, um seguidor de Enki'Nar e primeira figura paterna de Adapak; e Telalec, aquele que dá ao espadachim suas espadas gêmeas, Igi e Sumi, e o ensina a técnica dos Círculos Tibaul, técnica de ''luta'' baseada em prever os movimentos do adversário, que torna o espadachim que a dominar em um combatente quase invencível. Algo que me incomodou muito na leitura é que as presenças masculinas são maioria e as femininas, além de escacas, são bem rasas. Nisso o livro peca caindo em um esteriótipo onde as mulheres estão sempre em posição de perigo. É visível que ele tenta não cair nesse viés, mas caí mesmo assim. Existem apenas 2 personagens femininas memoráveis, T'arish a quem ele salva em sua adolescência e é sua primeira namorada e Sirara, capitã de um navio que conhecemos mais adiante no livro e também é um interesse amoroso do espadachim ainda que velado. Neste último caso é realmente uma pena pois Sirara é uma ótima personagem e leria um livro só de suas aventuras a frente do navio sem pensar duas vezes.

"A distância entre nós e o que desejamos superar deve ser decidida por nós mesmos, e não somente pela natureza"

Mas voltando a Adapak, ele é um personagem de muitas camadas, como alguém que viveu sempre isolado, pois por mais que Kurgala seja um território rico em raças diferentes e exóticas, não há ninguém como Adapak neste mundo. O jovem de 19 ciclos conhece o mundo por meio dos livros e daquilo que seu pai o ensina. Quando é obrigado a se expor pelas ruas junto com o restante da população cai em golpes de rua, acredita que os outros tem as mesmas boas intenções que ele, o que o faz cair em várias situações difíceis. É muito interessante de ver toda essa inocência sendo confrontada e de certa forma ainda resistindo mesmo diante de um mundo não tão colorido como as páginas dos seus livros.


"O ruim não é puramente ruim e o bom não é puramente bom. O bom e o ruim andam juntos, você tem que aceitar um pra entender o outro."

O final me pegou um pouco de surpresa. Você chega nas últimas páginas querendo entender porque estão tentando matar ele e quando a resposta chega é um pouco chocante. Mas devo dizer que a resolução fica um pouco fácil quando a poeira assenta. Existe um claro gancho para o segundo livro e não é que o final seja ruim, mas pra mim pelo menos deixou um pouco a desejar.


Se você curte alta fantasia, histórias de ação, cenas de combate muito bem escritas, esse é o livro pra você. Uma dica caso sinta a mesma dificuldade que eu com o início do livro, pesquise fanart's. Me ajudaram muito a me nortear neste Solanoverso. É um livro gostoso de ser lido, uma história curta e muito bem escrita. Que venham As Pontes de Puzur!


O espadachim de carvão Autor: Affonso Solano Editora: Casa da Palavra/LeYa Ano de publicação: 2013 256 páginas

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